A Carta do Movimento é um documento importantíssimo, e é tido como tal pela Fundação Wikimedia, que o alocou na sua Estratégia 2030, buscando garantir equidade na tomada de decisões.
Mesmo assim, a Carta parece não ressoar tanto fora do Movimento Wikimedia, ou seja, nas comunidades de pessoas usuárias menos atentas aos movimentos políticos, de governança e de tomada de decisões que compõem isso que chamamos o Movimento Wikimedia.
Como embaixadora da Carta do Movimento, é essa a visão que tive, através de uma pequenina amostra da comunidade brasileira com quem pude conversar. A maioria não conhecia o debate da Carta, e se considerarmos que ela está em discussão pelo menos desde o final do ano de 2021 quando se formou o comitê redator, parece que há um problema de representação aí.
De todo modo, as intenções da Carta parecem fazer bastante sentido para a comunidade entrevistada, sobretudo porque carregam algumas explicações que podem ajudar a comunidade a entender melhor o sistema de governança Wikimedia. Isso tem um valor muito positivo, haja visto que muitas pessoas ainda não sabem, por exemplo, que são as comunidades que detém o poder de eleger o Board of Trustees da Fundação Wikimedia. Ou que há a intenção de se criar um Conselho Global e que a Carta justamente formula sobre isso.
Desse modo, a Carta foi criada com uma intenção propositiva. Contudo, parece que ela responde, e talvez deva responder, a muitas dúvidas que as pessoas usuárias têm sobre o Movimento. Dessa forma, é possível pensar que talvez além das proposições a Carta deva sim, dar explicações maiores sobre os conceitos, políticas e estruturas que ela aborda.
Assim, embora a ideia seja que o documento não seja extenso e de difícil leitura, parece haver uma demanda por maiores explicações, que poderiam por exemplo serem situadas num apêndice contendo um histórico, ou um glossário expandido, com mais informações e riqueza de detalhes do que o existente atualmente. As próprias definições de papéis e responsabilidades não pareceram ser suficientes para a comunidade entrevistada, que teve dúvidas, por exemplo de que forma as comunidades Wikimedia poderão, ou deverão, garantir justiça e equidade na governança e manter a saúde geral da comunidade? De que forma isto impacta as formas como as comunidades voluntárias atuam, se elas têm autonomia editorial? Parece haver, como já comentei em outro texto, uma demanda por maiores discussões junto à comunidade, e talvez textos e definições para além da própria Carta.
Foi debatido pela comunidade que há um distanciamento entre as pessoas da comunidade que fazem parte do Movimento Wikimedia e as pessoas que apenas editam os projetos Wikimedia. São valores, intenções e objetivos que não necessariamente são os mesmos, embora ambos sejam chamados de comunidade, e coexistam no sistema Wikimedia.
Nesse sentido, um ponto de preocupação é o quão representativa a Carta pode ser em relação a esse universo “não explorado” ou não tocado de pessoas que não estão engajadas no Movimento, e se isso representa ou não um problema, já que existe essa separação entre as pessoas editoras e o que chamamos Movimento Wikimedia. De todo modo, parece que se queremos que o Movimento Wikimedia cresça, precisamos estabelecer metas para atingir novos públicos, e a formulação de uma Carta que seja mais explicativa pode contribuir para isso.
Com carinho,
Alebasi 24
Embaixadora da Carta do Movimento